quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cildo Meireles - Inserções em Circuitos Ideológicos

Cildo Meireles é um artista brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro em 1948.
No Brasil, Cildo Meireles refez a tradição do readymade de Duchamp com a sua série das Inserções em circuitos ideológicos, em 1970.
A operação consistia em retirar objetos de um sistema de circulação, interferir sobre eles e então inseri-los, novamente, no sistema. O projeto “Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola” consistia em gravar nas garrafas retornáveis de coca-cola informações, opiniões críticas, a fim de devolvê-las à circulação.
Cildo apoderou-se das garrafas vazias de coca-cola, as quais seriam, talvez, o símbolo do capitalismo americano de consumo. Nessas garrafas estampou então mensagens políticas, utilizando-se da mesma tinta branca com a qual se escrevem as informações normais do rótulo. Nesta etapa, as mensagens permaneciam mais ou menos despercebidas. Cildo reintroduziu as garrafas para o seu circuito, elas voltaram para a fábrica, onde foram lavadas e preenchidas novamente. Agora, graças ao fundo preto proporcionado pelo líquido, a mensagem será lida pelo próximo consumidor que, por sua vez, ao beber seu conteúdo, devolverá a garrafa ao distribuidor, que a encaminhará ao fabricante e assim sucessivamente.

Cildo escreveu nos rótulos das bebidas a frase “Yankees, go home!”. Em seguida, devolveu as garrafas de vidro para circulação. A palavra Yankees está relacionada com os Estados Unidos. Era originalmente remetida aos habitantes da Nova Inglaterra, localizada ao nordeste do país.  
Essa obra foi produzida em 1970, período em que o Brasil vivia uma ditadura militar, se não apoiada, pelo menos vista com tolerância pelo governo americano. Naquele momento, produzir arte numa garrafa de coca-cola era algo pertinente e cheio de significado.
Cildo Meireles usa o dinheiro, carimba as cédulas anonimamente com mensagens políticas e as devolve à circulação. É quase uma estratégia de guerrilha que Cildo nomeia de Inserções em circuitos ideológicos: Projeto cédula. Essa obra foi feita no período da ditadura militar.
Durante a ditadura militar, a censura aos canais de informação e à produção cultural foi intensa, tudo era acompanhado muito de perto pelos censores do governo. O objetivo principal era passar à população a idéia de que o país se encontrava na mais perfeita ordem, os jornais foram calados, obrigados a publicarem desde poesias até receitas no lugar das verdadeiras atrocidades pelas quais o país passava.
Vladimir Herzog era jornalista, diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, aos 38 anos foi encontrado morto, supostamente enforcado, nas dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. No dia seguinte à morte, o comando do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de repressão do exército brasileiro, divulgou nota oficial informando que Herzog havia cometido suicídio na cela em que estava preso.
A versão oficial da morte foi rejeitada pelos movimentos sociais de resistência à ditadura militar. Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, o processo movido pela família do jornalista revelou a verdade sobre a morte de Herzog. A União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado.

Cildo Meireles utilizou as cédulas de dinheiro como uma maneira de confrontar com tudo aquilo que estava acontecendo.

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