sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

8ª Bienal do Mercosul

A Bienal do Mercosul é uma mostra internacional de arte contemporânea que ocorre em Porto Alegre desde 1997. As bienais são eventos primordialmente expositivos, que ativam a cena artística de uma cidade durante períodos relativamente curtos.
A 8ª Bienal do Mercosul está inspirada nas tensões entre territórios locais e transnacionais, entre construções políticas e circunstâncias geográficas, nas rotas de circulação e intercâmbio de capital simbólico. O título refere diversas formas que os artistas propõem para definir o território, a partir das perspectivas geográfica, política e cultural.
A 8ª Bienal do Mercosul será realizada no período de 10 de setembro a 15 de novembro de 2011, em vários espaços culturais da capital gaúcha, como o Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), Santander Cultural, Cais do Porto, entre outros locais. As cidades de Santa Maria e Caxias do Sul, no interior do estado, também receberão atividades artísticas ligadas ao evento.

Destaques da 8ª Bienal do Mercosul:

- Uma Bienal que não está concentrada em um único local ou cidade, mas que repercuti por todo o território do Rio Grande do Sul, passando por mais de 20 cidades, entre elas Caxias do Sul.
- É a Bienal do Mercosul mais internacional até o momento, são 107 artistas de 34 países participando: Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Camarões, Chile, Colômbia, Costa Rica, Coreia do Sul, Cuba, Egito, Equador, Eslovênia, Espanha, EUA, Finlândia, França, Gaza, Guatemala, Inglaterra, Israel, Japão, México, Noruega, Palestina, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Rússia, Sealand, Suécia, Suíça e Venezuela.
- Participação de 38 artistas brasileiros, sendo 15 do Rio Grande do Sul.

Projeto Continentes:

O projeto Continentes incentiva a criação de redes de intercâmbio, conhecimento e colaboração entre instituições culturais independentes do Rio Grande do Sul e de outros países da América Latina.
Ao longo da Bienal, três espaços do Rio Grande do Sul vão receber instituições internacionais em suas sedes, com o objetivo de trabalhar em conjunto durante um mês para troca de experiência e formação de redes de intercâmbio.
O Núcleo de Artes Visuais de Caxias do Sul (NAVI) recebeu os espaços Lugar a Dudas, da Colômbia e KIOSKO galería, da Bolívia, para desenvolver projeto em colaboração.

Algumas obras expostas no Cais do Porto em Porto Alegre:

To be continued... (Latin American puzzle) [Para ser continuado...quebra-cabeça latinoamericano] é um quebra-cabeça gigante, cujas peças, apesar de se encaixarem perfeitamente, nunca conseguem armar uma imagem global correta ou completa. Cada uma delas tem imagens estereotípicas de América Latina: Che Guevara, Carlos Gardel, a Virgem de Guadalupe, os monumentos eqüestres dos precursores da Independência, os mariachis, as igrejas coloniais, as guerrilhas revolucionárias, as culturas indígenas pré-colombinas, os animais andinos, as frutas tropicais, Carmem Miranda, os militarismos... Uma obra que revela o olhar precário do estrangeiro, que conhece apenas estereótipos da nossa cultura e paisagens.

 Eurasia (detalhe)

Em tempos de globalização e de conflitos regionais ainda por resolver, a migração forçada ou voluntária continua sendo um fenômeno central que questiona as definições tradicionais de nação, fronteira e identidade. Yanagi Yukinori considera que os limites geográficos são cada vez mais uma ficção – como as bandeiras – devido aos constantes movimentos transnacionais. Seus trabalhos mais conhecidos consistem em realizar bandeiras de países com areias coloridas em caixas de acrílico, organizadas em retículas segundo relações geopolíticas (antigas colônias com o país colonizador, os países das Américas, os do litoral do Pacífico etc.). As bandeiras adjacentes se conectam por meio de pequenos tubos de plástico. Yanagi libera colônias de formigas, que vão cruzando as bandeiras com seus túneis no seu incansável ir e vir, misturando grão a grão as cores, hipoteticamente “até conseguir uma grande bandeira universal”. As granjas de formigas de Yanagi alegorizam os movimentos migratórios entre países através do trabalho das formigas, erodindo a suposta integridade cultural dos Estados-Nação, expressa num de seus símbolos mais recorrentes.
Mercosul (2011) mostra as bandeiras dos países do bloco geopolítico do chamado Cone Sul, complementadas pelas das Guianas, territórios situados na América do Sul, porém distanciados culturalmente do resto do continente por sua condição colonizada ou remota. As formigas vão construindo seus túneis, estabelecendo pontes entre as nações alegorizadas nas bandeiras, minando a integridade visual delas e propondo uma utópica integração regional. Ironicamente, a cultura, através da Bienal do Mercosul, tem sido mais efetiva em conseguir o livre intercâmbio de capital simbólico entre os países da região do que o tratado de livre comércio, que até agora não logrou derrubar as barreiras estabelecidas pelos interesses comerciais de cada nação.

 Bandera Vacia (detalhe)

Bandera vacía [Bandeira vazia] (2006) é uma obra em que a bandeira, como símbolo de identidade nacional e emblema representativo de uma ideologia compartilhada, é alterada, tirando o tecido de cor interior e mantendo somente suas costuras e emblema central. Essa operação de esvaziamento expõe a ausência ou a crise das ideologias e a sensação de desenraizamento por essa falta de identidade e compromisso.


Hago mío este territorio [Declaro meu este teritório] – um gesto implacável: uma faca na parede que mostra esta frase – explora os ritos de possessão e conquista de território.
A noção de território é central na prática artística de Manuela Ribadeneira. Seu discurso se desenvolve em torno das implicações políticas, sociais, econômicas, culturais e simbólicas dos limites entre uma coisa e outra.

 Tiwintza mon amour (detalhe)

Tiwintza mon amour [Tiwintza meu amor] (2005) é uma escultura cuja escala 1:1000 representa 1 km² de selva dentro do território peruano que lhe foi outorgado ao Equador na resolução de um conflito de terras. Um poético comentário sobre os processos de demarcação fronteiriça – muitas vezes absurdos e inflexíveis – e o papel que eles desenvolvem no imaginário nacional.


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